segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Thanks for the gifts


Todo ano mesma coisa, a alegria do natal é contagiante, não para mim. Sinceramente a felicidade alheia sempre me irritou. Desde pequeno, tudo que eu queria era ficar deitado na minha cama. Sem um tio chato vir e fazer piadinhas idiotas sobre meu cabelo ou meus piercings, isso que já não pintei meus olhos, só iria piorar. Mas a pior parte, sem dúvida, é fingir estar feliz.
Bem, agora estou mentindo: sinto asco da troca sorrisos falsos entre minha mãe e minha tia (todos sabem que elas não se suportam desde a infância), do meu pai bebendo cerveja como um porco gordo junto com outros tios e a TV acompanhando a final do futebol, das crianças idiotas procurando papai noel pelo céu nublado ou brincando com os cachorros. Do cheiro da comida "especial" que minha vó comprou no mercado e apenas colocou no microondas por meia hora. De como todos mentem para si "Nós amamos isso", "Comemoraremos o nascimento de uma divindade mal construída".
E então, chega a hora esperada por todos eles; a hora da ceia. Lá vou eu engolir a sujeira que servem. Quando cansam, a velha levanta, com muito esforço, e começa a falar para todos em alemão. Mesmo sem entender do que falam, sei que falam de mim porque sou estranho, o estragado, uma desonra para o nome da família, basicamente, sou a ovelha negra.
Apenas porque que penso diferente (na verdade, o único que pensa). Levanto dali e deixo todos com seus discursos de agradecimento pelo ano que tiveram, vou no banheiro colocar a comida pra fora, junto com a angústia. Me tranco no quarto, acendo um cigarro pra tirar o gosto de bile da boca e ligo os fones, ainda assim ouço grito das crianças com seus novos brinquedos tortos. Volume no máximo, e tento controlar todo meu ódio, um trabalho árduo que faço desde que nasci.